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Esclerose Múltipla: Sintomas e Prevenção (Agosto Laranja)
Pessoas entre os 18 a 55 anos são as mais acometidas. Os custos com a Esclerose Múltipla nos EUA supera 10 bilhões de dólares ao ano!
Esclerose Múltipla: Sintomas e Prevenção (Agosto Laranja)

Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central (SNC). Costuma trazer importantes impactos nos aspectos físicos, psicossociais e econômicos – não só do paciente, como também de sua família e da sociedade – e é uma das condições mais pesquisadas na Neurologia em todo o mundo.


Trata-se uma doença neurológica autoimune – ou seja, as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.  É a 2ª causa de doença neurológica que causa incapacidade em jovens. Embora a causa da doença ainda seja desconhecida, a EM tem sido foco de muitos estudos no mundo todo, o que têm possibilitado uma constante e significativa evolução na qualidade de vida dos pacientes. Os pacientes são geralmente jovens, em especial mulheres de 20 a 40 anos.


A Esclerose Múltipla não tem cura e pode se manifestar por diversos sintomas, como por exemplo: fadiga intensa, depressão, fraqueza muscular, alteração do equilíbrio da coordenação motora, dores articulares e disfunção intestinal e da bexiga.

A ABEM (Associação Brasileira de Esclerose múltipla) estima que atualmente 35 mil brasileiros tenham Esclerose Múltipla.( prevalência estimada é de 10 a 20 casos por 100.000 habitantes).


Como ela é?


Uma das marcas da doença é o seu curso imprevisto: alguns pacientes são assintomáticos ou tem sintomas leves e transitórios, levando uma vida normal (e por isso também há muita dificuldade de diagnóstico); mas outros têm um quadro grave e progressivo desde o início. É preciso suspeitar da doença quando na anamnese (a parte da “conversa médica” no consultório) e no exame físico o médico neurologista consegue perceber evolução de diversos momentos e situações diferentes que apontam para áreas diferentes do cérebro e medula. 


Algumas considerações merecem destaque:

  • - NÃO é uma doença mental
  • - NÃO é contagiosa
  • - NÃO existe um teste diagnóstico específico
  • - NÃO existe prevenção
  • - NÃO tem cura – tratamento serve para diminuir efeitos e desacelerar a progressão

Há diferentes tipos evolutivos de EM, e 85% dos pacientes possuem a forma surto-remissão (ou “remitente-recorrente” – EMRR ); uma minoria possui a forma primariamente progressiva (EMPP). Pessoas entre os 18 a 55 anos são as mais acometidas. Os custos com a EM nos EUA supera 10 bilhões de dólares ao ano!

Como é feito o diagnóstico?


Dentre os sintomas típicos estão: parestesias e perdas de força/coordenação em qualquer topografia; alterações da visão e na fala; dificuldades na marcha e no equilíbrio; bexiga neurogênica; fadiga e alterações cognitivas sutis. É importante ressaltar que estes achados não surgem simultaneamente: geralmente, uns vão se alternando aos outros em surtos clínicos que acontecem de tempos em tempos. Não costumam estar presentes na EM: cefaleia persistente, febre, convulsões e alteração no nível de consciência.

Esses sintomas aparecem também em várias outras doenças que precisam ser descartadas e consideradas. Habitualmente, o médico neurologista solicita exames como testes sorológicos (de sangue), Ressonância Magnética (RM) e Líquor (o parecido com a raquianestesia). São exames complexos e caros e ainda assim, podem não ser definitivos. Por isso, é comum que o paciente tenha passado anos numa via sacra por entre diferentes médicos antes de se chegar ao resultado definitivo, uma vez que a EM não possui marcadores biológicos estabelecidos e a RM nem sempre é plenamente reveladora. De toda forma, a Ressonância Magnética é essencial e estão estabelecidos critérios de Neurorradiologia (“Critérios de MacDonald” modificados, de 2010).

 

Assim, no diagnóstico de EM deve existir:


  • - Evidência de múltiplas lesões no Sistema Nervoso Central (SNC) +
  • - Evidência (clínica ou de exame) de pelo menos dois episódios de distúrbio neurológico num indivíduo entre 10 e 59 anos de idade.


Em situações de dúvidas, repetem-se os exames após um período!


Por que ela acontece?


Na Esclerose Múltipla, a 
perda de mielina (substância cuja função é fazer com que o impulso nervoso “percorra” os neurônios) leva a interferência na transmissão dos impulsos elétricos e isto produz os diversos sintomas da doença – processo denominado desmielinização. A mielina em todo sistema nervoso central e qualquer região do cérebro pode ser acometida. O tipo de sintoma está diretamente relacionado à região afetada – assim é o cérebro, cada área comandando um aspecto. As áreas predominantemente acometidas são córtex, tronco encefálico, cerebelo e medula. (veja figura  abaixo)

 


 

REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM NEURÔNIO – A CÉLULA DO SNC  E SUA BAINHA DE MIELINA – Figura retirada da ABEM


Com a desmielinização, ocorre um processo inflamatório que culmina, com o decorrer do tempo, no acúmulo de incapacitações neurológicas. Os pontos de inflamação evoluem para resolução com formação de cicatriz (esclerose = cicatriz) e essas cicatrizes não têm a mesma funcionalidade das áreas sadias, ocorrendo perda de função. 
Nos primeiros anos da doença ocorre a inflamação; nos anos finais, predomina o caráter degenerativo, inclusive com atrofia cerebral. Não está claro porque esta condição autoimune surge, mas fatores genéticos e ambientais podem influenciar (por exemplo, a incidência de EM é mais comum em países de alta latitude).

A evolução da doença classicamente, dá-se a partir de surtos de atividade inflamatória. O indivíduo pode recuperar-se total ou parcialmente. Há formas de doença variadas. Classicamente há recuperação parcial ou completa após cada episódio de atividade infalatória da doença ou “surto-remissão” – o episódio de ativação do processo inflamatório – chamada Remitente Recorrente (EMRR); há a forma mais lenta (e mais rara) sem surtos caracterizados, chamada de Primariamente Progressiva (EMPP) Por fim, um indivíduo que esteja inicialmente em forma EMRR pode evoluir para forma progressiva, caracterizando a forma Secundariamente Progressiva.

E tudo isso pode acontecer quanto não há sintomas evidentes. Nós médicos chamamos de paradoxo clínico-radiológico da EM, quando lesões são visíveis em exames de imagem, como a Ressonância Magnética, e o paciente não apresenta queixas para todas as lesões.

Ressalto que a vitamina D e a luz solar são duas polêmicas: certamente elas têm um papel na fisiopatologia, mas este não está bem esclarecido ainda. Por isso, a reposição de vitamina D NUNCA deve ser usada como tratamento isolado da EM.

 

Tratamentos disponíveis


O tratamento farmacológico é baseado em drogas modificadoras da doença (DMD), que são imunomoduladores, atuando no curso natural da doença, a fim de frear a progressão da inflamação, livrar o pacientes de surtos e diminuir o número de lesões na RM. Os medicamentos mais recentes têm conseguido diminuir as seqüelas, mas a EM, infelizmente, não tem cura. As principais medicações para a forma EMRR são: acetato de glatirâmer, interferons, natalizumabe, fingolimode, alemtuzumabe, teriflunomida e fumarato de dimetila.

Estes medicamentos variam em relação a eficácia, segurança, posologia e efeitos colaterais; por isso, a eleição de qual DMD será adotada em cada paciente depende de diversas variáveis clínicas. No entanto, para a forma primariamente progressiva, de pior prognóstico, só recentemente surgiram medicações candidatas a DMD.

No SUS, essas medicações são fornecidas gratuitamente de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Múltipla (PCDT-EM), de 2015. Este documento é criticado por alguns especialistas porque, de algum modo, engessa a escolha dos DMD, não permitindo a flexibilidade adequada para cada perfil de paciente.

Há também apoio em algumas formas de terapia não medicamentosa. Os pacientes costumam beneficiar-se de técnicas de reabilitação, sendo a mais difundida o Pilates.

Algumas considerações finais


Infelizmente, a despeito de já existirem mais de 10 medicamentos para tratamento de EM , e de muitos pacientes apresentarem melhora da qualidade de vida com o uso dos tratamentos atualmente disponíveis, uma proporção considerável não responde, progredindo para estágios mais avançados da doença ou descontinuando o tratamento.

Como dito, muito se estuda a respeito de EM no mundo e um consenso mundial recente amplia a valorização de alguns achados, facilitando a indicação de início de tratamento.

Embora a doença seja incapacitante muitas vezes, justamente na fase mais jovem e produtiva da vida, o indivíduo com EM deve entender que fugir da situação não irá melhorar a doença e quanto mais cedo iniciar tratamento específico melhor condições de vida poderá ter com o passar dos anos.

Um médico neurologista consegue diagnosticar a Esclerose Múltipla e iniciar o tratamento e, casos refratários ou mais complicados são remetidos a subespecialistas em grandes centros de pesquisa e tratamento.

Dr Washington Pereta Tavares

Neurologista - CRM SP 134323

@dr.washington.tavares.neuro

Fontes de domínio público consultadas:  PubMed e ABEM